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Ticiana Villas-Boas

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A estética do telejornalismo

Com carisma e simpatia, aliada a competência e determinação, Ticiana Villas-Boas saiu da Bahia para compor a bancada mais vip do telejornalismo brasileiro em São Paulo


Ticiana Villas-Boas irá comemorar a chegada dos seus 30 anos, no próximo dia 22 de novembro, em grande estilo. A bela de longas madeixas que carrega o centauro de arco e flecha na aura tem sangue quente. Encarregada de substituir a jornalista Mariana Ferrão, que foi para a GloboNews, Ticiana conseguiu se sobressair muito bem principalmente na apresentação da previsão do tempo, quadro que era apresentado com maestria por Ferrão.


Determinada a lutar pelo o que quer, Tici, - como é chamada pelos familiares e amigos mais próximos – desembarcou na bancada do Jornal da Band para não sair mais. Dona de uma simpatia singular e simplicidade cativante, a jornalista e apresentadora encantou os telespectadores com seu jeitinho baiano de tratar as pessoas e com a alegria que apresenta as notícias durante o jornal. Ao lado de dois sisudos, ela é o ponto que dá equilíbrio à bancada, comandada pelo competente, e exigente, Ricardo Boechat e pelo ultra-experiente tradutor do economês na mídia, Joelmir Betting.

Cuidadosa com a imagem e reputação não quis responder a nenhuma pergunta que envolvesse política mais por causa do clima eleitoral que envolve o país, mas mostrou-se bastante receptiva para falar das coisas que a cerca como a família, do seu recente casamento e do seu jeito de ser.

Torcedora do Vitória – mas ela confessou ter simpatia pelo Corinthians -, a baiana vê com certo receio a Copa a ser disputada no Brasil, e diz que vai torcer para que dê tudo certo.

Como a grande maioria dos baianos, e nordestinos por extensão, Tici não dispensa as visitas à Salvador e não fica sem o cheiro e o sabor da culinária da região. Vira e mexe ela está matando a saudade degustando quitutes da terrinha, que ela mesma se encarrega de contar nesta entrevista. Aliás, até aqui só foi um saboroso aperitivo. Divirta-se e conheça um pouco mais de Ticiana Villas-Boas nas linhas a seguir.


O que você fazia antes de ser jornalista?
Como uma típica estudante de jornalismo de classe média, numa universidade pública em busca de se livrar da mesada dos pais, fazia uns bicos... freela, como chamamos. Fazia assessoria de imprensa para eventos da faculdade, e para outras faculdades da Universidade (me formei pela Universidade Federal da Bahia). Fiz assessoria para a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), por exemplo. E também era professora de ballet. Dei aula de ballet clássico por um ano para crianças em Salvador.

Você tem irmãos? Como é sua relação com a família, tanto antes de vir para São Paulo como agora?
Dois: Diego, de 23 anos e Mariana, de 27. É uma família bem nordestina; grande, unida, cheia de primos e tios, barulhenta e todo mundo se metendo na vida do outro... (risos). Meus pais estão juntos há 37 anos, desde quando tinham 14 anos! Nos vemos pelo menos uma vez por mês E na minha casa, aqui, tento reproduzir a de lá; sempre com muita gente e almoço pronto para quem vier! Gosto que seja o ponto de encontro dos amigos e da família.

O que você lê diariamente?
Tenho assinatura de um jornal impresso e outros dois leio pela internet, todos os dias de manhã quando acordo – Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo. Também leio sempre um da Bahia, geralmente, o A Tarde. Fora isso, muitos releaseres chatos que chegam ao meu email e, claro, o boletim meteorológico e as notícias do tempo! À noite a leitura é só para mim. Atualmente estou lendo O Lobo de Wall Street, de Jordan Belfort (autobiografia de um pervertido que ganhava fortunas durante o dia e à noite torrava tudo com sexo, drogas e loucas viagens), por influência de meu marido que trabalha no mercado financeiro. E antes de dormir abro aleatoriamente uma página do meu livro de cabeceira; uma coletânea de poesias de Fernando Pessoa - chama-se Quando Fui Outro.

Quais estilos de música você gosta?
Adoro música brasileira: - fora sertanejo -, (gosto de) forró universitário, funk, música de adolescente que agora é intitulada de pop rock, sobrou alguma coisa? (risos). Acho que só os básicos, né? Chico, Caetano, Gil... Mas gosto da música produzida no nordeste; Cordel do Fogo Encantado, Zeca Baleiro, Lenine, Otto, e não dispenso um axé quando estou correndo na rua, na esteira, fazendo musculação, no chuveiro ou em 'fim de festa' na minha casa.

Qual a sua rotina diária?
Trabalho a partir das 12h30min e só chego em casa as 21:00 horas, depois da última reunião. Durante as manhãs, duas vezes por semana faço aula de inglês e 3 vezes corrida e musculação. Também aproveito as manhãs para ir ao médico, dentista, fazer reuniões. Depois, na redação é só notícia, texto, gravação de offs e uns bobes nos cabelos (risos).

Como você faz para matar a saudade da terrinha? E o que você sente mais falta?
Este ano tenho conseguido ir para salvador uma vez por mês. Delícia! Pena que é sempre muito corrido, só no fim de semana mesmo. É tanta gente da família para ver, tanta coisa que quero fazer e comer que nunca dá tempo!

Como baiana o que você não dispensa em termos culinários?
Farinha, pimenta e carne seca. Mas não gosto de comer pratos típicos baianos aqui em São Paulo por mais que sejam bem feitos, mesmo que preparados por baianos não é a mesma coisa! Não dá para comer acarajé, por exemplo, na (avenida) Paulista! Não combina, tem que ser na praia. Sempre que vou a Salvador como lambreta (prato à base de mariscos) , caranguejo e o mousse de côco de Liza, que trabalha lá em casa desde que nasci. E sempre trago para os meninos do estúdio (da Band) farinha, cocadinha e pimenta fresca. Quase todos eles são nordestinos ou filhos de nordestinos.

Pelo tempo que está em São Paulo, já deve conhecer bem a cidade. No quê as cidades de São Paulo e Salvador mais se diferem?
Responder a falta de mar é meio óbvio, né? Mas junto com isso vem um estilo mais despojado de se vestir, de encarar a vida, o trânsito. As pessoas são diferentes, mas não reclamo dos paulistanos, não. São diferentes, mas os admiro. São mais organizados, pontuais, e cumpridores de tudo; de regras, compromissos a horários. Aqui é mais difícil de ver o tal jeitinho brasileiro. Lá em Salvador consigo esperar no carro, no aeroporto, sem precisar estacionar, também ganho mais camarão no acarajé se ficar amiga da baiana. Aqui não tem conversa.

Você se casou recentemente. Como está a vida de casada... mudou muita coisa, e o maridão faz o quê?
Ele é economista, trabalha no mercado financeiro. E a característica mais importante; é baiano. Não é fácil conciliar a vida de recém-casada com a de uma mulher que trabalha muito. Além de agora ser casada, virei também uma dona de casa. Temos uma secretária todos os dias, mas tenho que me preocupar com o cardápio do almoço, do jantar, com as camisas de trabalho bem passadas de Fábio. Sem contar que ele é muito organizado e detalhista (ao contrário de mim) . Tenho que me preocupar com coisas que nunca havia me preocupado numa casa. Isso tudo trabalhando em média 10 horas por dia e ainda em clima de Lua de Mel! Queremos fazer um jantar especial todas as noites, tomar vinhos todas as noites, viajar todo final de semana! Ainda não fixei essa nova rotina. Ela ainda está se desenhando. Conciliar tudo e fazer tudo bem feito não é fácil, mas as descobertas são gostosas e vou me ajeitar. Estou quase lá!

Se não me falha a memória, você tinha uma vocação artística, teatral... foi o jornalismo que entrou na sua vida ou o contrário?
O jornalismo entrou na minha vida. Fiz ballet desde pequenininha, 4 anos, fui professora. Também fiz teatro na escola e na faculdade, nada profissional, só para me divertir. Na escola participava todo ano da edição de uma coletânea de poesias, sempre gostei de escrever. Entrei na faculdade de jornalismo porque não sabia o que fazer. Sabia que gostava da área artística. Nos jornais sempre começava a leitura pelos segundos cadernos. Pensei que fosse ser jornalista para escrever sobre cultura e tudo acabou pegando outro rumo. Que bom!


Como foi o início da sua carreira?
Comecei a trabalhar em televisão em 2002, como estagiária, na TV Educativa. Em 2005 fui convidada para ir para a Band Bahia. Recebi a proposta uma semana antes do Carnaval. Zuca, a minha então chefe, precisava de uma repórter para participar da cobertura nacional do Band Folia e apostou em mim, mesmo sem tanta experiência e acabando de chegar. O trabalho foi super legal. Conheci o pessoal daqui de São Paulo; Raimundo Lima, Juca Silveira e Walkíria Hamu e falaram que gostaram do meu trabalho, me deram várias dicas e disseram que apostavam em mim. Fui ao céu. Foi uma injeção de força e, ali, foi plantada a sementinha da vontade de vir para São Paulo. Eu não era repórter de rede, era apenas local, mas como não queria que eles me esquecessem redobrei o trabalho. Trabalhava num turno para o jornal local e no outro ficava insistindo para os meus chefes para fazer reportagem para o (a edição) nacional. E conseguia emplacar as matérias. Aí, meu atual chefe de São Paulo, Fernando Vieira de Mello, reparou em mim. Agora vem a parte mais engraçada da história: o repórter lá de Salvador que fazia as matérias nacionais entrou em férias, Zuca perguntou se eu preferia ser apresentadora do programa local, o Band Cidade, ou cobrir as férias dele. Não pensei duas vezes e fiquei com a reportagem. Só que ficou um buraco na minha vaga e que precisava ser preenchido para o nosso jornal local. Aí, (o pessoal da Band de) São Paulo mandou uma repórter que estava começando e trabalhava como rádio-escuta, a Juliana. Quando Juli chegou, nos demos muito bem. Fui sua guia turística: levei-a para comer acarajé, show do Olodum, apresentei amigos e a levei até para minha casa de praia. Acabei seduzindo-a com os encantos de Salvador e tive uma ideia: pedir para ela ficar mais um mês lá na terra maravilhosa e eu ir para o lugar dela em Sampa. O que acha da troca? Ela topou. Agora faltavam os chefes de Salvador. A resposta de imediato foi não. Seria mais um mês de gasto extra. Falei que resolveria o problema. Corri atrás de hotel mais em conta para Juli, permuta em restaurante, coloquei minha casa na troca também, disse que pagaria minha passagem e que em São Paulo ficaria na casa de parentes. Mostrei a proposta e disse que com tudo resolvido e sem gasto ele não teria como negar. Meu chefe disse: "nunca vi pessoa tão insistente e chata. Vá logo. Vá arrumar as malas". Ele acabou bancando passagens, hotéis, tudo. Agora teria outro probleminha. A vaga de Juliana era de rádio-escuta, de produção, não de repórter. Mas como os orixás estão comigo, um repórter do Jornal da Band tinha acabado de entrar em férias. Pronto, fiquei um mês fazendo reportagem para o principal jornal da casa. Na época, conheci pessoalmente Fernando Vieira de Mello e Carlos Nascimento, e disse para os dois que queria voltar para ficar. Isso foi novembro de 2005. Em abril de 2006, pouco depois do carnaval, eles me chamaram.
Você veio para substituir a Mariana Ferrão, que trocou a Band pela GloboNews. Foi sorte sua ou azar dela? Comentou-se nos bastidores que ela se arrependeu de ter feito isso...
Não posso avaliar a escolha dela. Acho que deve estar feliz sim, só tenho notícias boas dela. Não temos contato direto, mas tenho notícias por seu marido que trabalha aqui no Grupo Bandeirantes. E para mim foi muita sorte!

Como são as estruturas das tevês da Bahia?
Bem menores mas por serem mais carentes, inclusive de profissionais. Temos a oportunidade de passar por várias áreas, sem burocracia, testes ou experiências. Lá fui rádio-escuta, produtora, pauteira, câmera woman, editora, entregadora de cafezinho, trocadora de bobina de fax, arquivista e também repórter e apresentadora.

Você ganhou neste ano o troféu Mulher Imprensa como melhor âncora de telejornal. Na sua opinião, prêmios como esse não visam demais somente aqueles que estão no topo da mídia, isto é, se você estivesse na retransmissora da Band na Bahia será que ganharia esse prêmio?
Esse é um prêmio para âncoras de jornais nacionais mesmo. Não tinha como ser diferente. E é um prêmio muito importante e respeitado no meio. Mas acho sim que dão pouca importância e visibilidade para jornalistas que escolhem ficar no estado onde nasceram e começaram a profissão. Quantos “Francisco José” e “Zé Raimundo” (repórteres especiais da Rede Globo que atuam no norte e nordeste, um cearense e outro baiano, respectivamente) podem existir por aí? Esses dois repórteres especificamente admiro muito. Conseguiram ser jornalistas de referência nacional, inclusive com prêmios, ganhar bem sem sair de sua terra. O que eles fizeram é mais admirável do que eu, que vim pra São Paulo. Eles conseguiram sem precisar sair, se afastar da família.

Como é estar ao lado do Ricardo Boechat e do Joelmir Betting todos os dias? Aprende muito com eles?
Claro! Aprendo todos os dias. E o trabalho (durante a apresentação do jornal) é tão descontraído quanto parece na tevê. E um estilo bem "boechat" que estou aos poucos aprendendo. Ele é muito espontâneo, é exatamente o que a gente vê na televisão e ouve na rádio. Não gosta de nada combinado, detesta jogo de cena. É o que chama (ele) de "teatralizar" o jornalismo. Nenhum comentário é previamente acertado. Ele decide na hora de falar. Joelmir tira de letra, eu e o diretor de tevê às vezes somos pegos de surpresa. Quem sou eu para falar dele? Mas na minha modesta opinião, Boechat tem duas características raras na televisão: é original e não é vaidoso. Aprendo muito com ele. No ar tem aquele jeitão carioca, cheio "de marra", descontraído, mas na redação, salvem-se quem puder. Ele é o terror dos editores. Não deixa passar um "s" fora do lugar. Joelmir para mim é um ícone. Também não sou ninguém para falar do economista e profissional que ele é, mas sei que nunca vi uma pessoa tão culta e educada. Parece que sabe de todos os assuntos do mundo. E eu no meio dessa dupla...

Você já participou de coberturas importantes, como eleições presidenciais, a vinda do Papa ao Brasil, jogos panamericanos, carnaval. Cobriu a cúpula do clima em Copenhague, na Dinamarca. Já viajou para cobrir catástrofes provocadas pelas chuvas no Brasil, etc. Qual foi a matéria que te deu mais prazer em fazer e qual mais te chateou desde que veio para São Paulo?
Essas que você citou me marcaram bastante. São matérias que precisaram de mais tempo, de uma viagem, de uma pesquisa especial, mais dedicação... Mas também já me envolvi e me emocionei tanto quanto, lendo uma notícia sobre um pai que foi assassinado na frente do filho, ou cobrindo um factual quando conheci uma menina que sofria de uma doença rara, por exemplo. Uma das melhores coisas da profissão é sermos surpreendidos por algo novo, por algo inesperado.

(Certa vez, quando trabalhava no jornal O Imparcial, em São Luís, fiz uma reportagem de uma garotinha que tinha hidrocefalia. A cabeça dela era maior que uma abóbora. Aquilo me marcou para sempre...)

O que você espera da sua carreira para o futuro? Tem planos...
Sonho em ganhar agora um prêmio como repórter. Quero viajar mais, fazer mais reportagens, e arriscar novos formatos.

Qual seu time do coração? Tem simpatia por algum de São Paulo?
Aqui em São Paulo, Corinthians, o time da massa, e em qualquer lugar Vitória.

Você acredita que o Brasil está preparado para sediar uma Copa do Mundo?
Vixe... Pelo que estou vendo, está complicado. Mas agora que não tem como voltar atrás, quero que dê certo! E vou torcer muito pelo Brasil. Só precisamos ficar atentos com os gastos...
Tenho um colega baiano que trabalha nos Correios e ele sempre me diz que o baiano está sempre feliz... "Vive de mau humor? Vá para Salvador", diz ele. É verdade?
É verdade. Por isso tenho que voltar uma vez por mês para lá. Não quero esquecer como tudo dá certo no final. Nada como um banho de mar, de folha e uma dose de dendê.

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